A Rússia lançou, nesta segunda-feira (31), um ataque a instalações energéticas em várias regiões da Ucrânia, privando 80% dos habitantes da capital Kiev de água e deixando "centenas de localidades" sem eletricidade. Ao mesmo tempo, no sul do país, as forças ucranianas tentam retomar Kherson, cidade que se tornou um dos principais eixos da guerra.

Com informações de Anastasia Becchio e Boris Vichith, enviados especiais da RFI à região de Kherson
Pelo menos cinco explosões foram ouvidas logo pela manhã em Kiev e, em seguida, "80% dos consumidores da cidade" foram privados de água, disse o prefeito da capital Vitaly Klitscho no Telegram, especificando ainda que "350.000 casas estavam sem eletricidade".
“Terroristas russos lançaram, mais uma vez, um ataque maciço contra instalações do sistema de energia em várias regiões", declarou um conselheiro da presidência ucraniana, Kyrylo Tymoshenko.
As forças armadas russas confirmaram que haviam realizado "ataques com armas de alta precisão e longo alcance (...) contra o comando militar e os sistemas de energia da Ucrânia".
De acordo com a Força Aérea Ucraniana, "mais de 50 mísseis de cruzeiro foram lançados" na Ucrânia "usando aviões", do norte do Mar Cáspio e da região russa de Rostov. "Em vez de lutar no terreno militar, a Rússia combate civis", criticou Dmytro Kouleba, o ministro ucraniano das Relações Exteriores.
Para o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, os ataques russos representam uma ameaça direta à segurança dos países vizinhos". O representante de Kiev pediu mais uma vez aos aliados da Ucrânia que forneçam "equipamentos modernos de defesa antimísseis e antiaéreos".
Esses novos ataques ocorrem após o anúncio feito por Moscou, no fim de semana, da suspensão de sua participação no acordo sobre as exportações de grãos ucranianos, vitais para o abastecimento mundial de alimentos.
Kherson, o novo eixo da guerra
Simultaneamente, as forças de Kiev avançam lentamente nas operações para tentar recuperar a região de Kherson, parcialmente controlada por forças pró-russas. Mas após terem liberado vários vilarejos mais ao sul, as tropas ucranianas encontram resistência na progressão em direção a Kherson.
“É mais complicado do que pensávamos”, resume Evguen, um militar da 60ª brigada, mobilizado desde os primeiros dias da guerra, que começou em fevereiro. “Temos que lutar por cada vilarejo, cada pedaço de terra. Além disso, como é uma região de planícies com poucas árvores, ficamos totalmente descobertos quando atacamos”, relata em entrevista à RFI. “Mas não tem problema. Vamos conseguir. É apenas uma questão de tempo”, diz, otimista.
A administração de ocupação russa prometeu que Kherson será a sua fortaleza. As tropas de Moscou retiraram boa parte dos civis, levados para a outra margem do rio Dnipro, que faz fronteira com a cidade. Uma tática que dificulta a ação das forças ucranianas.
“Eles [os russos] fizeram de propósito. Ao levar as pessoas para a outra margem do rio de Kherson, os usam como escudos. É uma estratégia militar, já que depois podem dizer que nós atiramos em civis ucranianos”, explica outro soldado.
Os dois militares afirmam que ambos os campos sofreram muitas perdas humanas nos últimos dias e não se iludem com os avanços já conquistados: “a batalha ainda será longa”, desabafam.
Por: RFI